Nos anos recentes, Eduardo Jorge de Oliveira lançou para seus leitores e leitoras uma teia de conhecimentos translúcida e complexa. O poeta e o pesquisador coorganizam essa teia com abordagens marcadas pela transversalidade teórica, valendo-se do ensaio para analisar as derivações de conceitos e experiências estéticas. Integrados, esses aspectos nos estimulam a ver o real pela lente da especulação e nos lembram, com sutileza, das injunções que fazem uma experiência valer mais do que sugere a sua finitude. Um exemplo desse encadeamento pode ser observado em dois de seus livros: o ensaio crítico A invenção de uma pele (2018), dedicado à obra de Nuno Ramos, e o ensaio poético Teoria do hotel (2019), que mostram – sem desvendar de todo – o ponto de tangência entre o pensamento e as flutuações do lirismo. Em O mundo a zero, o autor parte desse ponto para dialogar com Carlos Drummond de Andrade, Haroldo de Campos e Ricardo Aleixo, vozes e corpos poéticos que se revelam, cada um à sua maneira, sensíveis às fricções da vida, da reflexão e dos artefatos da escrita. O mundo representado na tradição literária ocidental como máquina desafiadora ou lugar obscuro (e revisitado por esses poetas) nos intriga pela sua ambivalência, ora acolhendo, ora expulsando quem se dispõe a interpretá-lo. No presente ensaio, Eduardo Jorge investe na prática da interpretação para tecer indagações delicadas e contundentes sobre esse palco onde nossos dramas são encenados. O mundo a zero consiste, teoricamente, numa viagem às viagens que outros realizaram para confeccionar um certo modelo de mundo. Diferentes em suas personalidades, vincados por perdas e aquisições, esses autores pensam o mundo que tivemos e sondam o mundo que, talvez, devêssemos construir. Nas reflexões de Eduardo Jorge, o saber gerado por essas vozes constitui um testemunho estético no qual “se algo se perde da informação, algo se ganha na forma”. Assim, se o modelo camoniano entreviu nas ruínas um mundo tensionado por forças contrárias, os olhares de Drummond, Haroldo de Campos e Aleixo questionam, em algum momento, a sua existência tal como a conhecemos. Nesse sentido, este livro ressalta que as vozes poéticas deduzem do vazio, do precário, da ruína possibilidades de mundo, estabelecendo no poema “uma fabricação da realidade”. Tais possibilidades, mediadas por múltiplas formas de linguagem, instam o poeta a traduzir o intraduzível e os leitores a acionarem o desejo de decifrar o poema. É assim, regido por tensionamentos, que o mundo sobressai no tempo e no espaço. Não seria de outro modo, como demonstra Eduardo Jorge de Oliveira, que certa poesia e o pensamento crítico tentariam compreendê-lo. 2v1m15
Front Matter / Elementos Pré-textuais / Páginas Iniciales | ||
Prefácio | ||
Introdução – Máquinas épicas e restos históricos | ||
Capítulo 1 – O mundo, uma elegia: variações a partir de Drummond | ||
Capítulo 2 – Experiências atlânticas, experiências de destroços | ||
Capítulo 3 – Um poema em big bang : A máquina do mundo repensada | ||
Capítulo 4 – Sapatos tipográficos: “máquina zero”, de Ricardo Aleixo | ||
Conclusão – Experimentum linguae : a máquina do mundo nas encruzilhadas da língua portuguesa | ||
Referências | ||
Sobre o autor |